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Travar a crise climática não está na mesa de voto. E agora?

Eleições em 2024, com mandato até 2028, sem um único programa para travar a crise climática são um crime contra as nossas vidas e uma confirmação que o próximo governo reterá a guerra declarada pelos governos e empresas contra as pessoas.

Neste artigo apresentamos a análise feita para compreender se os programas eleitorais apresentados conseguem travar a crise climática.

Travar a crise climática está na mesa de voto?

Enfrentamos a maior crise da Humanidade. As condições para existir vida humana e das espécies que connosco co-habitam este planeta estão em causa. O nível de violência e sofrimento humano inerente à subida da temperatura média da Terra acima dos 2ºC é para além do imaginável. Porém, há outros caminhos possíveis que não apenas o rumo ao colapso climático.

É possível travar a crise climática.

Começando pelos básicos, é necessário travar o aumento de emissões. Isto implica não avançar com novos projetos que aumentam emissões – gasodutos, aeroportos, etc – e deixar de investir e financiar com dinheiro público a indústria fóssil. Há igualmente diversas medidas que podem ser posta em prática já no imediato, sem um impacto na vida das pessoas e sem comportar uma séria transformação social, mas que permitem por um travão ao aumento das emissões: parar as emissões de luxo, pondo fim, entre outras coisas, ao uso de jatos privados, e acabar com as emissões de consumo sem utilidade social e com um grande impacto a nível de emissões, gasto de água doce, e destruição de territórios e ecossistemas, por exemplo banindo os cruzeiros, “brindes” inúteis, campos de golfe e os voos Lisboa-Porto. Para ser possível fazer estes cortes, é necessário colocar a vida acima do lucro e ter uma política, instituições e espaços públicos livres dos interesses fósseis, direcionando o foco de todas as instituições para a tarefa premente de travar o colapso climático.

Precisamos, não só, de garantir que não há um aumento das emissões, mas sim de garantir um corte de emissões de gases com efeito estufa substancial, para assim alcançarmos neutralidade carbónica até 2030, em Portugal. Tal implica uma grande transformação do modelo produtivo, dos processos industriais, da forma como produzimos energia, e de como a utilizamos, do sistema de transportes, e do modelo de produção agrícola, do sistema alimentar, da gestão florestal e de gestão de resíduos. Para esta mudança acontecer, grande parte do trabalho na sociedade tem de ter esse propósito. Devemos criar milhares de Empregos dignos geridos democraticamente para o clima e a sociedade – os Empregos para o Clima. Para além disto, temos de imediatamente abandonar os Tratados de comércio livre e de investimento, que impedem que as pessoas tomem decisões em prol da vida e dos interesse das pessoas, se estas forem contra os lucros do 1% da população.

Para conseguirmos fazer esta mudança de forma resiliente, ao mesmo tempo que estamos já a enfrentar eventos climáticos extremos, temos de garantir que todas as pessoas têm uma casa, começando por parar imediatamente os despejos e deportações, que exacerbam os efeitos da crise climática na vida das pessoas. Acesso garantido a alimento saudável e autonomia energética são igualmente necessários.

Para além disso, mesmo que Portugal atingisse hoje neutralidade carbónica em Portugal, manteríamos o rumo ao colapso climático através da perpetuação do colonialismo fóssil e do investimento no complexo industrial militar. Não há como por fim a esta guerra declarada à vida, sem desmantelar estes sistemas de opressão.

Os custos desta transição devem claro ser pagos por quem foi e é responsável por criar e perpetuar esta esta crise – CEOs, acionistas, etc –, não sendo estes que fazem as decisões, mas sim as pessoas, garantindo justiça social.

Estas são as medidas necessárias básicas para travar os atuais ataques perante a vida. Analisámos os programas de todos os partidos com assento parlamentar para 2024 – 2028 para compreender se apresentam planos para travar o colapso climático.

OS PROGRAMAS ELEITORAIS

Partindo do princípio que os partidos seguiriam o seu plano eleitoral, o objetivo é compreender o nível de compatibilidade dos programas com justiça climática e com as metas estabelecidas pela ciência e limites da Terra.

Para analisar os planos de cada partido olhamos para os seguintes parâmetros:

  • Medidas necessárias: analisamos a capacidade das medidas apresentadas, se implementadas, de garantirem os cortes de emissões e/ou transformações sociais, políticas e de produção necessárias.

  • Planos de implementação: todas as pessoas estão fartas de palavras vazias. A transformação necessária até 2030 implica a apresentação de planos concretos para o mandato de 2024 – 2028. Analisámos os planos apresentados no programas em busca desde menções vagas de intenções de compromisso ou ação, até à apresentação de planos claros de implementação de como se propõem as candidaturas a garantir os seus compromissos dentro de justiça social.

  • Prazos: Apresentar planos para alcançar neutralidade carbónica em 2050 ou 2040 quando sabemos que entre 2026 e 2035 Portugal vai emitir todo o CO2 a que tem direito até 2100, é garantir o colapso climático. Analisámos os prazos apresentados sobre o critério do seu realismo climático e compatibilidade com a meta não negociável de neutralidade carbónica até 2030 em Portugal.

Assim, criamos o seguinte espectro:

De seguida analisamos 4 grandes áreas onde é preciso atuar: Descarbonizar; Sociedade livre de fósseis; Decisões pelas pessoas e para as pessoas; Abrigo para todas as pessoas.

Descarbonizar – Neutralidade Carbónica até 2030

Em Portugal, é necessário atingir a neutralidade de carbono até ao ano de 2030, ou seja, cortar pelo menos 85% das emissões nacionais até 2030. Atualmente, as emissões tecnicamente mais difíceis de cortar são as emissões provenientes dos resíduos e de processos industriais como a produção de aço e cimento. Mesmo reduzindo as emissões destes setores a metade, a sua soma equivale a cerca de 11% das emissões de Portugal. Assim, é necessário implementar cortes drásticos nos restantes sectoresem particular em transportes e energia – até 2030.

Para compreender os planos de descarbonização de cada partido, analisámos as seguintes áreas:

  • Novos projetos: garantir que não é investido mais dinheiro público tal como não são avançados projetos que vão levar ao aumento de emissões, como um novo aeroporto, mais gasodutos, mais auto-estradas.

  • Emissões de luxo: aqui entram emissões que sobre as quais só uma pequena parte da sociedade é responsável, mas cujo impacto é imenso, como jatos privados, iates e carros de luxo.

  • Transporte: atualmente o sector com mais impacto. Separamos entre transportes terrestres, marítimos e aviação. Nos terrestre analisamos as medidas de aposta em transportes coletivos e elétricos, mobilidade leve e diminuição do carro individual; e de diminuição das cadeias de transporte; Nos marítimos as medidas sobre cruzeiros e frota marítima; Na aviação se são apresentadas medidas de redução significativa do volume de voos, com decrescimento da aviação comercial.

  • Eletricidade: fim do uso de gás, e qualquer outro combustível fóssil, e conversão de toda a produção de eletricidade em Portugal, para energias renováveis, fazendo as necessárias adaptações na rede – cessando as importações de eletricidade produzida através de combustíveis fósseis vinda de outros países.

  • Suficiência Energética: medidas que permitam gerir a produção dos bens e serviços com foco no que é realmente necessário para a sociedade, excluindo todos os gastos desnecessários.

  • Edifícios: medidas relacionadas com eficiência energética nos edifícios públicos e casas das pessoas, tal como autonomia energética; e recuperação do parque edificado e diminuição de nova construção.

  • Indústria: medidas que permitam uma transformação industrial no sentido da descarbonização, quer de fornos a altas temperaturas quer dos processos químicos.

  • Agricultura e pecuária: medidas para uma redução da pecuária, o aumento da resiliência dos agroecossistemas e sistemas alimentares a choques e eventos extremos e aumentar a eficiência de uso de recursos.

  • Sistema Alimentar: medidas que permitam um sistema alimentar de zero emissões e comida acessível a todas as pessoas.

  • Resíduos: medidas relacionadas com a gestão e diminuição de resíduos (ex: travar a obsolescência programada e o consumo descartável, investimento na reparação e reutilização).

  • Floresta e combate a incêndios: medidas para travar a desflorestação, aumentar a resiliência da floresta, e diminuir os incêndios em áreas de florestas e plantações florestais.

  • Colonialismo fóssil: Quando os exércitos e burocratas colonialistas saíram dos países do Sul Global, as suas empresas ficaram para dar continuidade ao modelo económico extractivista e ao fluxo dos recursos do Sul Global para o Norte Global. Temos uma responsabilidade não só histórica como atual, estando a GALP a extrair e produzir combustíveis fósseis em Moçambique, Angola e Brasil. Enviar as nossas emissões para outros países não é a admissível. Consentir com o colonialismo atual, não é admissível.
Eis o resultado:
Os programas das candidaturas têm propostas diferentes, mas nenhum apresenta a intenção – quanto mais um plano – de alcançar neutralidade carbónica em 2030.

Sociedade livre de fósseis

Para ser possível alcançar cortar as emissões e implementar as transformações de produção e política necessária é preciso que o poder do fóssil deixe de estar nas salas de decisões, na educação, cultura e desporto e que possamos fazer decisões para as pessoas. Para isso temos de ter uma sociedade livre de fósseis.

  • Política, instituições e espaço público livres de fósseis: Mostrou-se ser impossível fazer decisões pela vida e não pelo lucro, enquanto as empresas, CEOs e acionistas que lucram com as crises sociais, estão sentados à mesa nos processos políticos, nos tribunais e outras instituições. É igualmente necessário parar com toda a publicidade e patrocínios que legitimam o mercado fóssil e transmitem contra-informação em todos os espaços públicos, como a televisão, rádio, redes sociais, escolas e faculdades, ruas e estradas, nos concertos, teatros, museus e estádios de futebol. Este é um passo imediato que temos de dar para permitir colocar a vida acima do lucro.

  • Parar investimentos públicos em fósseis: Atualmente o estado português gasta 3.3 milhões de euros por dia em subsídios para os combustíveis fósseis. Este investimento tem de ser parado imediatamente e realocado para travar a crise climática, pondo fim a todos os investimentos públicos em fósseis.

  • Sair dos tratados de comércio livre e investimento: Para fazermos decisões que coloquem o interesse das pessoas acima do lucro de algumas empresas, é necessário libertam-nos e rejeitarmos mecanismos antidemocráticos como os ISDS para resolver disputas comerciais e tratados que servem exclusivamente os interesses das multinacionais contra as populações. São necessárias medidas para não aceitar futuros acordos e para rejeitar acordos atuais.

Eis o resultado:

Decisões pelas pessoas, para as pessoas

Travar a crise climática só é possível se as decisões forem tomadas com o foco na vida e nas pessoas ao invés do lucro. Dado o objetivo das empresas ser maximizar o lucro para os seus acionistas e manterem-se competitivas, não colocaram a vida acima do lucro. Assim, as decisões, gestão e implementação para travar a crise climática tem de ser feito pelas pessoas e para as pessoas.

  • Empregos pelo Clima: Para implementar as transformações necessárias no tempo necessário é essencial criar milhares de novos postos de trabalho público nos setores-chave para a transição. Neste ponto analisamos se há planos para a criação de Empregos para o Clima, quais prazos propostos e setores envolvidos.

  • Empregos com propósito: Todas as pessoas têm de estar ativamente envolvidas em travar a crise climática e ter tempo para estar envolvidas nas decisões políticas e implementações locais. Assim, analisamos se há um medidas para garantir que os trabalhos têm um propósito, são dignos e se há uma diminuição do horário laboral para permitir às pessoas atividade fora do local de trabalho.

  • Gestão da transição pelas pessoas e para as pessoas: A Galp não pode gerir a transição pois, ao colocar o lucro acima da vida nunca nos levará para uma transição. Assim, é preciso que a coordenação e gestão da transição seja feita pelas pessoas e para as pessoas. Há diversas formas de o fazer, aqui analisamos se as candidaturas apresentam medidas neste sentido, em particular para os setores da energia, transporte e indústria.

  • Quem paga é o 1%: Se as empresas petrolíferas e os ultra-ricos lucraram com o colapso climático até agora, então têm de ser eles a pagar os custos da transição justa. Fazemos a análises e há medidas que permitem esta redistribuição.

Eis o resultado:

Os partidos não tomam como sua responsabilidade garantir que a transição acontece.

Abrigo para todas as pessoas

Todas as pessoas têm um direito inegável à habitação, e à terra – são uma condição básica de sobrevivência. Retirar pessoas de onde estão a viver e coloca-las à mercê das alterações climáticas é um ato contra a vida e que implica estar conscientemente a condenar pessoas à morte.

  • Parar deportações: Numa altura em que há dezenas de milhões de pessoas refugiadas climáticas, e sabendo que este número aumentará para mil milhões antes de 2050, é necessário parar as deportações. A maioria das pessoas migrantes não se vê como refugiadas climáticas, porque fogem das consequências desta: falta de água e comida, aumento da repressão e violência física e sexual, conflitos políticos e sociais, entre outros. Não podemos condená-las às condições sociais, económicas, políticas ou climáticas de que escapavam. Analisamos se apresentam medidas de parar as deportações e quais as medidas sobre migrações.

  • Parar despejos: Viver em crise climática é viver perante convulsões ambientais, políticas e sociais. Expulsar as pessoas das suas casas, das suas comunidades ou de onde moram é colocá-las no meio das cheias, ondas de calor, conflitos sociais e precariedade. Aqui analisamos quais as medidas para parar imediatamente os despejos em Portugal.

  • Garantir habitação para todas as pessoas: Aqui analisamos se há medidas para garantir abrigo para todas as pessoas, que não impliquem uma expansão descontrolada de construção.

  • Travar a violência do complexo industrial militar: Trata-se de um indústria cujo objetivo é subjugar e impor formas de opressão tal como de exploração colonialistas e racistas tanto nas nossas comunidades como nas nossas fronteiras – sendo responsáveis por uma fatia considerável de emissões globais. Em plena crise climática, projetos como o Frontex enviam milhares de pessoas para a morte. Analisamos o apoio dado ou não e medidas para encarar de forma diferente os desafios que a crise climática nos apresenta.

Eis o resultado:

Apesar de algumas medidas apresentadas estas estão aquém do que é necessário atualmente face à crise climática.

O que cada partido diz

A AD propõe sem concretizar “alcançar a neutralidade carbónica em 2050”, vinte anos depois do necessário, reiterando o “mantra” da competitividade, do mercado voluntário de carbono e a expansão da produção de energia. Aposta no investimento em infraestrutura e mercados de gás fóssil. Depois de vagas referências a remunerar serviços de ecossistemas, explica sem metas que é preciso aumentar o uso da ferrovia e dos transportes públicos, aumentar a capacidade da aviação e aeroportuária, e não apresenta objetivos de redução de emissões nos transportes. É o programa mais vago de todos.

Ao mesmo tempo, defende reduzir os impostos para os ultra-ricos, aumentar o investimento na indústria militar e a fomentar e facilitar investimento em projetos de energia – cuja maioria é fóssil – em diversos países que Portugal colonizou.

O BE propõe abandonar o modelo de comércio de carbono e impor limites imperativos de cortes de emissões para os países, para cada setor de atividade e para as empresas poluentes. Não define, contudo, qual o nível cortes a realizar em Portugal. Propõe criar uma inspeção-geral para monitorizar o corte de 50% das emissões, dos setores industriais com emissões mais elevadas. Contudo, não apresenta prazos para estes cortes (deveremos presumir que será em 2028?). Apresenta medidas para prevenção de incêndios, que incluem as queimas controladas, a descarbonização da frota marítima e diminuição de cruzeiros, mas não apresenta prazos de implementação. Propõe expandir e eletrificar a ferrovia até 2040 e aumentar o seu uso para passageiros e cargas até 40%, restringir zonas centrais nas grandes cidades da circulação de automóvel, aumentar a capacidade solar, proibir jatos privados e eletrificar cruzeiros. Não apresenta um plano de retirada dos fósseis da produção elétrica e apoia a construção de um novo aeroporto em Alcochete, de uma ponte ferroviária sobre o Tejo (para garantir acessibilidade a esse mesmo novo aeroporto), e a construção de mais estradas para concluir a rede rodoviária nacional.

É de notar que propõe a “criação de emprego em setores que reduzam as emissões”, e a criação de um ;"Programa Nacional para a Transição Justa, com apoios sociais e formação para que os trabalhadores e trabalhadoras das indústrias poluentes que têm de ser encerradas possam usar os seus conhecimentos e experiência em empresas de baixo carbono” e recuperar a soberania pública sobre o setor da energia. Contudo não apresenta planos nem prazos para estes. Ao mesmo tempo, apresenta medidas para taxar os lucros excessivos das petrolíferas, tal como taxar lucros caídos do céu e colocar imposto de solidariedade sobre as grandes fortunas. Por fim, defende o fim aos despejos e demolições forçadas para as comunidades discriminadas em Portugal e combater de forma geral do despejos se a pessoa não tiver outra casa para onde ir.

É de notar que o programa do Partido Ecologista - Os Verdes, apresenta medidas diferentes do programa do PCP - por vezes contraditórias com as do PCP. Dado a falta de clareza sobre quais seriam as práticas finais da CDU, a diferença das medidas entre os programas e a minoria de representação do PEV na coligação, avaliámos as medidas climáticas da CDU de acordo com o plano do PCP.

O PCP não apresenta metas de cortes de emissões, propondo um Plano Energético Nacional em que as energias fósseis têm de perder peso, sem esclarecer o que isto significa, ao nível do corte de emissões e escala de tempo para estes acontecerem. Indica que as empresas energéticas principais devem estar no controlo público. Propõe a prospeção de todos os tipos de energia em território nacional, incluindo combustíveis fósseis, para “maximização do valor acrescentado em cadeias de tratamento sediadas no País”. Indica a necessidade de redução de resíduos e de combate à obsolescência programada. A nível de transportes propõe, como a maioria dos partidos, o aumento dos transportes públicos e gratuitidade para alguns grupos sociais, mas não apresenta metas. Propõe a construção de um novo Aeroporto em Alcochete.

Apresenta diversas medidas que permitem justiça social de transferir os lucros dos ultra-ricos e empresas para as pessoas, tal como medidas de rejeição da militarização das relações internacionais e a defesa da redução dos gastos militares, apoiando o desarmamento geral e construção de paz. Por fim apresenta algumas medidas de restingir situações de despejo e acesso a casa para as pessoas.

Por sua vez, o PEV propõe a redução da dependência de combustíveis fósseis, visando o fim da sua utilização, mas não indicando prazos nem planos.

A IL incorpora a linguagem do capitalismo verde e do mercado absoluto sem subterfúgios, propondo que a produção e consumo de energia elétrico no país duplique até 2050, através de uma “autoestrada” para o investimento privado na criação de uma infraestrutura energética. Pretende alcançar neutralidade carbónica 20 anos tarde de mais, em 2050, mas não indica objetivos claros de cortes,propõe uma aposta em gás fóssil, e “vê com bons olhos o renascimento das intenções de investimento em energia nuclear”. A necessidade de cortes ficará assim resolvida, parece, por magia através do mercado voluntário de carbono e do Fundo Ambiental para inventar tecnologias que não existem. Propõe o pagamento de serviços de ecossistemas, a construção de um novo aeroporto de Lisboa, a criação de regadio público e a privatização da água. Propõe também o incentivo à monocultura/ agricultura em larga escala, e incentiva bens de luxo.

A IL apoia os Tratados de Comércio livre e de investimento, “acordo comercial com a MERCOSUR é uma prioridade para Portugal, como é a criação de laços com a recente Zona de Comércio Livre Continental Africana” querendo igualmente estabelecer os acordo com os Estados Unidos, cancelado pós anos de pressão dos cidadãos e comunidades locais que se opuseram. Por fim, pertende aumentar o apoio ao complexo de indústria militar e à militarização de Cabo Delgado, zona em Moçambique completamente destruída e altamente militarizada devido à exploração de gás fóssil forçada às comunidades locais.

O Livre propõe que todas propostas orçamentais tenham uma avaliação climática e que a eletricidade seja 100% renovável até 2030. Propõe a proibição da venda de carros a combustão interna a partir de 2030, com uma aposta na ferrovia e em mobilidade leve. Apresenta a meta de redução de 65% das emissões nacionais até 2030, e de neutralidade carbónica em 2040, propondo para isso estudo de opções nucleares. Não se opõe, contudo, de forma clara à construção do gasoduto nem refere quando se deixará de utilizar combustíveis fósseis. Propõe uma redução do consumo energético, e a criação de uma “empresa pública vocacionada para a promoção das energias renováveis e da gestão de uma rede nacional de transportes públicos sustentável”. Não é absolutamente clara a sua posição em relação à construção de um novo aeroporto em Lisboa, propondo sem concretizar a limitação do transporte aéreo e a taxação de jatos privados. Apresenta medidas para suspender despejos e melhorar condições de acesso a habitação.

Por fim rejeita o ISDS, “o Sistema de Tribunais de Investimento e ainda qualquer tentativa de criar um Tribunal Multilateral de Investimentos”, pretende combater o “dumping” ambiental ou social em outros países, e “humanizar o sistema europeu comum de asilo” acabando com os retornos ilegais entre outras medidas.

O programa do PS mantém a linguagem usada dos anteriores mandatos, propondo sem quantificar uma revisão do insuficiente PNEC 2030, a implementação da Lei de Bases do Clima e a elaboração deum inventário nacional de emissões. Promete reduzir a intensidade energética em 2% até 2030 e promover um enorme investimento privado em renováveis, sem metas de cortes. Não indica o destino da infraestrutura de gás fóssil, incentivada sem subterfúgio através da promoção dos “gases renováveis” (onde gás fóssil se inclui, apesar de não ser renovável) e do hidrogénio. Propõe aumentar emissões com a construção de um novo aeroporto em Lisboa e uma terceira travessia do rio Tejo. Mantém a proposta de expansão de aviação e manutenção de jatos, propondo além disso a construção de mais estradas e autoestradas, a promoção do mercado voluntário de carbono e a construção de um novo gasoduto. Por fim, pretende apostar na indústria militar e em aprofundar as relações económicas com o espaço CPLP (onde a Galp se encontra a explorar combustíveis fósseis e a apresentar novos projectos).

O PAN propõe neutralidade carbónica em 2045, 15 anos tarde de mais, eletricidade 100% renovável até 2035, 10 anos tarde de mais, e fim da produção de eletricidade a gás natural na UE até 2040. Propõe uma antecipação no corte de emissões da pecuária para 50% até 2030, tal como algumas medidas chave para o corte de emissões no sector alimentar. Apresenta diversas medidas de diminuição e gestão de recursos, nomeadamente na ótica de regeneração da floresta e prevenção de incêndios, mas não estabelece prazos ou objetivos concretos. Propõe gratuitidade dos passes mensais de transportes públicos até 2028 e a expansão não quantificada dos transportes públicos e ferrovia, tal como a eletrificação de toda a ferrovia e incentivos à mobilidade leve. Propõe que voos internos com alternativa por ferrovia ou autocarro, não aconteçam. Ao mesmo tempo apresenta o Aeroporto de Beja como localização para o novo aeroporto de Lisboa, ou como complementar.

Por fim, apresenta medidas para travar despejos em certas situações, propõe garantir a não deportação em casa do processo de regularização pendente ou em curso e combater paraísos fiscais.

O partido proto-fascista não reconhece a existência de crise climática, debruçando-se apenas sobre as suas consequências. Propõe instalar pequenas centrais nucleares e expandir o uso de biomassa, criar a "autoestrada de água", construir mais estradas e satisfazer as necessidades de transporte dos turistas. Além disso, propõe mercantilizar o acesso à nacionalidade, obrigar migrantes a pagar para o sistema contributivo e criar um regime de vigilância e registo permanente de atividades de migrantes, colmatando uma política racista de perseguição e criminalização de pessoas migrantes.

Os partidos estão a garantir o colapso climático.

É pior do que pensamos. O nível de cortes de emissões necessário para travar os piores cenários da crise climática não está previsto no programa de nenhum dos partidos políticos ou coligações: AD, BE, Ch, CDU, IL, L PAN ou PS. Muito menos um plano real e concreto de justiça climática, que permita por fim à guerra declarada à vida. O debate atual entre políticos cinge-se entre diferentes níveis de dissonância, negacionismo ou soluções escritas pelos culpados desta crise que não resolvem o problema e que apenas permitem aumentar os lucros de quem a criou. O reconhecimento da emergência climática e da necessidade da sua resolução não existe fora deste corte mínimo. Não implementar estes cortes é garantir o colapso climático.

Não se trata apenas números. Trata-se de vidasdevastadoras e incêndios extremos. Não fazer estes cortes implica uma escolha premeditada de colocar o interesse das empresas e dos acionistas acima da vida e necessidades das pessoas, seja por convicção, por cálculo político ou estratégia eleitoral.

Há 50 anos lutávamos para poder votar. Mas a democracia não é uma cerimónia. Os termos em que estas eleições estão a ser disputadas são uma perversão de democracia. É de notar ainda que esta é uma realidade pré-eleitoral. As prováveis negociações pós-eleitorais levam sempre a uma cedência maior dos programas eleitorais, pelo que estamos a falar com toda a certeza de um cenário de cortes de emissões ainda mais afastado das necessidades. Esta realidade é um espelho da dissonância entre diagnóstico sobre a crise climática, e a ação e transformação socio-económica necessária para a travar.

É possível e urgente impedir o colapso climático. Para tal há passos essenciais que têm de acontecer desde hoje e durante os próximos anos.

Travar a crise climática está nas tuas mãos

Travar a crise climática está nas tuas mãos

Relembrando as palavras de António Guterres, atualmente estamos a caminhar rumo ao inferno climático. Os políticos mantêm o pé no acelerador. Alguns vão mais rápido, outros mais lentos. O que é preciso é mudar o rumo de direção. Dirigir-nos no sentido de colapso climático é um ataque à vida e uma guerra contra as pessoas e o planeta.

Todos os políticos têm acesso à informação, sabem perfeitamente o estado da crise climática. De igual forma, não se trata de falta de consciência ou de ignorância perante as soluções e alternativas. Todos sabem que travar a crise climática não é impossível, mas requer um processo de transformação industrial e laboral em larga escala, passando a estar no centro da sociedade a vida, ao invés do lucro. Pois bem, esta é uma mudança que requer uma enorme transformação social. Seja qual for o seu formato, será sempre contada como uma revolução. Esta mudança assusta o 1% da população que atualmente está a lucrar com a destruição da vida e não será permitida pelas instituições que atualmente funcionam para eles. Porém esta é a mudança necessária para alcançar justiça social e proteger a vida das pessoas, assim como enfrentar de forma coletiva a crise climática que já cá está.

Há soluções, construídas por pessoas e movimentos sociais: o Plano de Desarmamento e Plano de Paz une propostas formuladas e discutidas ao longo de anos, sendo atualmente a única alternativa honesta e realista que conhecemos em Portugal para resolver a crise climática. É um plano em constante construção feito através do debate entre as pessoas, respeitando os limites da ciência e e do planeta e promovendo a justiça social. Este é um plano que tem de ser conquistado e executado por todas nós, todos os dias, com as nossas próprias mãos.

Os 50 anos da revolução dos cravos relembram-nos como enormes mudanças podem ocorrer quando as pessoas se unem e lutam lado a lado. A mudança necessária para travar a crise climática será feita pelas pessoas comuns.

Travar o colapso não será feito por nenhum dos possíveis governos que saiam de 10 de Março. Para travar a crise climática, não importa tanto a tua decisão no dia 10 de Março mas sim o que vais estar a fazer nos restantes 364 dias do ano. A maior crise da história da Humanidade não vai ser resolvida na mesa de voto mas sim nas ruas, indústrias, portos, escolas, centros de saúde, campos e cidades. Enfrentar a realidade é assustador, pois aqueles que nos deviam estar a proteger estão a decidir a nossa morte. Não tem de ser assim.

É possível e necessário parar as crises atuais. Há um plano de como fazê-lo.

Cada uma de nós tem de deixar de consentir com violência feita sobre as pessoas, entrar em resistência, e parar esta guerra e conquistarmos lado a lado a paz social, implementando com as nossas mãos uma sociedade com a vida no centro.

LÊ O PLANO DE DESARMAMENTO E O PLANO DE PAZ

JUNTA-TE À RESISTÊNCIA CLIMÁTICA!

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