Glossário de Ativismo Climático

Urgência climática

Graças a vários mecanismos de retro-alimentação positiva nos ecossistemas da Terra, a partir de um determinado momento no tempo, espera-se que o aquecimento global continue a crescer por si próprio, a um ritmo exponencial, e independentemente do nosso impacto direto, tornando-se irreversível. [1] Isto quer dizer que há um prazo para vencer esta luta. Como as últimas décadas foram passadas a negociar e discutir [2], sem adotar medidas concretas para resolver o problema, este prazo é hoje muito urgente. Para evitar alterações climáticas em roda livre, temos de reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito de estufa durante as próximas duas décadas, [3] e de manter o aquecimento terrestre abaixo de, no máximo, 2°C em comparação com níveis pré-industriais. Estamos, de facto, em estado de emergência climática.

[1] https://vimeo.com/1709110
[2] http://unfccc.int/timeline/
[3] https://climaximo.pt/2016/02/22/decade-zero-sinan-eden/

Justiça climática

justica climatica

As alterações climáticas não acontecem no vazio. O Norte Global [1] é significativamente mais responsável pelas emissões de gases de efeito de estufa ao longo da história, enquanto o Sul Global é dramaticamente mais afetado pelos seus impactos. [2] As nações mais pobres, praticamente sem nenhuma responsabilidade pelas alterações climáticas, têm muito menos capacidade de adaptação. [3,4,5] Num só país, os mais pobres são muito mais vulneráveis do que os ricos. [6] Em geral, a cor da pele está associada a vulnerabilidades diferenciadas aos impactos ambientais do que os brancos [7,8], assim como o género. [9]

Toda a humanidade é afetada pelas alterações climáticas, quando a maior parte das emissões da história provieram de cerca de 90 empresas. [10] Para além disso, o poder de tomar decisões está concentrado nas elites socioeconómicas, enquanto o cidadão comum não tem influência visível no traçar das políticas seguidas. [11]

Há ainda uma outra injustiça envolvida, que diz respeito ao acesso à informação: multinacionais como a Exxon [12] ou a Shell [13] sabiam há décadas tudo o que havia a saber sobre o aquecimento global e ainda assim pressionaram contra uma política climática eficaz [14], ao mesmo tempo que patrocinavam o discurso negacionista na esfera pública. [15]

Denunciamos todos estes contextos sociais como injustiças climáticas, e acreditamos que uma verdadeira transição terá de envolver as populações, e responder a estes problemas. Acreditamos que a verdadeira solução para as alterações climáticas passa pela justiça climática.

[1] https://en.wikipedia.org/wiki/North-South_divide
[2] http://www.carbonmap.org/
[3] https://www.nap.edu/catalog/18373/abrupt-impacts-of-climate-change-anticipating-surprises
[4] http://germanwatch.org/de/download/8551.pdf
[5] https://www.theguardian.com/commentisfree/2014/may/12/new-zealand-refuses-climate-change-refugees-mass-action-is-now-needed
[6] https://www.oxfam.org.uk/blogs/2014/03/englands-most-deprived-areas
[7] https://thinkprogress.org/low-income-black-and-latino-americans-face-highest-risk-of-chemical-spills-da1e85c4d76c
[8] https://www.thenation.com/article/race-best-predicts-whether-you-live-near-pollution/
[9] http://www.womenandclimate.org/wp-content/uploads/2015/03/Climate-Justice-and-Womens-Rights-Guide1.pdf
[10] https://www.theguardian.com/environment/2013/nov/20/90-companies-man-made-global-warming-emissions-climate-change
[11] https://scholar.princeton.edu/sites/default/files/mgilens/files/gilens_and_page_2014_-testing_theories_of_american_politics.doc.pdf
[12] http://exxonknew.org/
[13] https://www.theguardian.com/environment/2017/feb/28/shell-knew-oil-giants-1991-film-warned-climate-change-danger
[14] http://senate.ucsd.edu/media/206150/lobby_spend_report__april.pdf
[15] http://merchantsofdoubt.org/

Extractivismo

Extractivismo é uma forma abreviada de nos referirmos a uma ideologia que sustenta que tudo o que existe neste planeta pode ser extraído para satisfazer as nossas necessidades, vontades, e até caprichos de curto prazo. Ainda que seja um bom amigo das obsessões do capitalismo com o crescimento económico (crescimento pelo crescimento), maximização do lucro e financeirização, o extractivismo tem raízes históricas que remontam aos tempos do colonialismo. Uma perspetiva extractivista considera os recursos naturais apenas como coisas a ser extraídas e exploradas pelos humanos. Contra esta dicotomia entre nós e tudo o resto no planeta, propomos uma perspetiva que considere os seres humanos como parte de um organismo, onde devemos ter atenção às nossas interações com os outros seres com quem partilhamos a casa. Uma perspetiva extractivista propõe-se resolver todos os problemas com mais extração, mais exploração, mais consumo. Propomos que, para nossa própria sobrevivência e bem-estar, abandonemos esta dimensão única.

Democracia energética

Podemos resumir a democracia energética como 1) a utilização de fontes de energia limpas e sustentáveis, 2) públicas, e 3) geridas pela comunidade. [1]

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A energia poluente, pelo seu impacto no clima, restringe o direito à autodeterminação das comunidades afetadas pelas alterações climáticas, assim como das gerações futuras. Por isso, uma democracia energética tem de ter na sua base políticas baseadas nos factos científicos e nos requisitos para garantir um planeta habitável.

Garantir que temos um planeta habitável é algo demasiado sério para que nos limitemos a fazer figas e esperar que, com sorte, venha por arrasto do crescimento económico. [2] Temos apenas uma década para mudar o nosso caminho na direção de uma verdadeira transição energética. [3] É por isso que esta discussão tem de se desenvolver para lá das preocupações com a maximização dos lucros ou a economia. E é por isso que a democracia energética tem de passar pela propriedade pública da energia.

Mas enquanto a propriedade pública permite maior controlo, regulamentação e documentação pública, os governos tendem a representar os grandes interesses económicos, que estão nas mãos de multinacionais e não das pessoas. Como princípio básico, uma transição justa implica que não sejamos apenas nós, a maioria (os 99% da população do mundo), a pagar os custos materiais e humanos desta transição. Até hoje, milhões de nós continuam a pagar os custos sociais da indústria de combustíveis fósseis, de cada vez que uma seca atinge a nossa região, ou uma tempestade assola a nossa cidade. Para fazer com que sejam os responsáveis reais a pagar este preço, precisamos do envolvimento direto das comunidades nesta transição. Assim, não basta a propriedade pública da energia, é necessário também que a sua gestão, acesso e decisões-chave passem pelas comunidades.

[1] http://www.youtube.com/watch?v=A2c9vsJeGFM
[2] http://www.empregos-clima.pt/base-para-uma-transicao-justa-democracia-energetica-sinan-eden-climaximo/
[3] http://www.carbonbrief.org/scientists-discuss-the-1-5c-limit-to-global-temperature-rise

Três números-chave: 80, 0, Zero

Keep it in the ground

Para evitar um aumento médio de 2°C na temperatura da superfície terrestre, temos de manter debaixo do solo pelo menos 80 por cento de todas as reservas hoje conhecidas de combustíveis fósseis (para além de quaisquer novas reservas a descobrir no futuro). [1]

De entre estas reservas, só algumas estão a ser exploradas neste momento. Mas a verdade é que, mesmo contando apenas estas, o seu número é já mais do que suficiente para exceder o nosso orçamento global de carbono. Isto significa que tem de haver exatamente 0 projetos novos de extração de combustíveis fósseis se quisermos manter o planeta habitável. [2]

Finalmente, por causa da urgência climática, temos de mudar radicalmente a direção da nossa sociedade, desde a produção à distribuição e ao consumo, e esta mudança de caminho terá de ter lugar durante a próxima década. Na Década Zero [3], tomaremos esta decisão: ou mudamos tudo, ou o clima mudará tudo aquilo de que dependemos para a nossa sobrevivência. [4]

[1] http://www.rollingstone.com/politics/news/global-warmings-terrifying-new-math-20120719
[2] http://priceofoil.org/content/uploads/2016/09/OCI_the_skys_limit_2016_FINAL_2.pdf
[3] https://climaximo.wordpress.com/2016/02/22/decade-zero-sinan-eden/
[4] https://thischangeseverything.org/book/

Ação direta

No contexto do ativismo climático, ações diretas são ações políticas que ou confrontam os responsáveis por um crime ambiental, ou testemunham um problema ambiental em curso. Estas ações envolvem um impacto direto no crime em si, como perturbar um processo que induziria uma decisão perigosa [1], fisicamente bloquear um crime em curso [2], ocupar um local de crime [3], ou negar legitimidade a certas atividades através de protestos no local, cantando músicas subversivas ou gritando palavras de ordem [4]. Nas ações diretas os ativistas “dão o corpo ao manifesto” para interromper o business-as-usual. Regra geral a ação em si tem um impacto direto positivo no problema em questão [5]. Alguns exemplos de ações diretas incluem protestos pacíficos como sit-ins, stand-ins, ride-ins, pray-ins, incursões, obstruções e ocupações.

[1] https://www.youtube.com/watch?v=T_4qwtkYWjY
[2] https://www.youtube.com/watch?v=xa0dTUQL-Eo
[3] https://www.youtube.com/watch?v=qQP07jwBsqk
[4] https://www.youtube.com/watch?v=M53-cxC8B1E
[5] https://climaximo.pt/2016/05/24/activism-its-better-than-dying-sinan-eden/

Desobediência civil

Desde tempos imemoriais que civis desobedecem a leis e líderes injustos, no entanto, o termo “desobediência civil” apenas surgiu no século XIX.

Este conceito pode ser materializado em diversas formas tais como a não-cooperação, greves, walkouts, ações diretas e boicotes, sendo essencialmente caracterizado pela sua natureza pública e política. Esta é a grande diferença entre quem simplesmente não paga o bilhete de metro no seu dia-a-dia por ser muito caro e uma ação pública onde se faz a mesma prática [1], mas com reivindicações políticas claras, e integrada numa estratégia de longo-prazo.[2]

Nós promovemos actos de desobediência civil como uma forma de obediência a leis e regras moralmente superiores. A maior parte das atividades destrutivas das indústrias de combustíveis fósseis não são só legais, mas são também parte das suas práticas rotineiras [3]. Quem valoriza um planeta habitável mais do que leis perigosas, corruptas e injustas não tem outra opção que não passe por desafiar o status quo.

[1] https://www.youtube.com/watch?v=mSm3fK0lp7E
[2] http://watchdisobedience.com/disobedience/
[3] https://www.youtube.com/watch?v=YyDgSl13Dl8

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