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Declaração de Estado de Emergência Climática

Em 2019 assumimos, de forma explícita e consciente, a mudança sistémica como a nossa missão social e política, declarando dentro do Climáximo um estado de emergência climática e lançando um processo profundo de reestruturação interna. Todos os anos temos aatualizado as medidas que tomamos com base na realidade. No verão de 2023, mudámos tudo.

Aqui encontras a declaração de estado de emergência climática atual tal como as declarações e pontos de situação anteriores.

Ponto de Viragem

Declaração de estado de Emergência Climática dentro do Climáximo – 2024/2025

Há um ano atrás olhámos para a realidade: os governos e empresas sabem das consequências devastadoras de continuarem a aumentar as emissões de gases com efeito de estufa e mesmo assim decidem deliberadamente condenar milhões de pessoas à morte todos os anos, continuando a construir novas armas de destruição massiva – projetos emissores. Decidimos dizer a verdade a nós mesmas e à sociedade: a crise climática é uma guerra declarada pelos governos e empresas contra a sociedade e o planeta.

Esta realidade é aterrorizadora, mas também nos permite ver que embora eles sejam os culpados, é a responsabilidade de todas as pessoas vivas nesta década parar esta guerra. Face a isto, no Climáximo demos o maior salto pessoal, organizativo e político desde 2015.Ao longo do último ano arriscámos, experimentámos e falhámos. Apesar da mudança brutal face ao que éramos, estamos muito longe do que a crise climática exige. Só nos últimos meses o mundo inteiro já viu catástrofes climáticas com impactos devastadores: nas cheias no Brasil centenas de milhares de pessoas ficaram sem casa e centenas sem vidas; dezenas de pessoas morreram na Índia face a temperaturas muito além do limite humano; e este será provavelmente o verão mais quente alguma vez experienciado na Europa desde que há registo. Os ataques contra a vida intensificam-se dia após dia: as emissões globais aumentaram e novos projetos de destruição massiva em Portugal (como um novo aeroporto e um novo gasoduto) e pelo mundo inteiro estão a avançar. A guerra que vivemos irá potenciar ainda mais a extrema-direita. Para travar a sua ascensão é preciso uma frente de resistência popular, mas esta irá falhar derradeiramente se não travar também o colapso climático.

É preciso ativar o travão de emergência – com um movimento forte, radical e alargado. Isso não aconteceu no ano passado, e reconhecemos o nosso fracasso nesse sentido.

Desde Setembro o Climáximo forçou que a crise climática e como pará-la estivesse muito mais presente no debate público – nunca as nossas ações tiveram tanta visibilidade e alcance. Porém, falhámos em conseguir que a crise climática fosse percecionada pela sociedade como a guerra que é [ver compromissos a) e d), em baixo]. Pela primeira vez apresentámos um plano de desarmamento e de paz, revisto por várias organizações. Contudo, não conseguirmos dar-lhe suficiente visibilidade, gerar um debate sobre ele e este não se tornou uma ferramenta de diversas organizações [ver f)].

Introduzimos uma nova âncora sobre o que é a crise climática e o que esta exige de todas as pessoas vivas nesta década. Celebramos o apoio e adesão que tivemos, tal como a quantidade de pessoas que se pronunciou sobre a ameaça existencial que a humanidade enfrenta. No entanto, não estamos satisfeitas com os resultados obtidos comparativamente ao que é necessário para a sociedade conseguir travar esta ameaça existencial. Oferecemos um novo enquadramento (a emergência climática como um estado de guerra) e ele demora algum tempo a assentar; mas nós falhámos em encontrar formas adequadas para acelerar essa introdução. Parte dessa falha deve-se a não termos conseguido quebrar a falsa separação entre “ativistas” e “pessoas comuns e em ter melhores estratégias que permitam cada pessoa deixar de consentir com a destruição de tudo o que nos rodeia, começando a tomar ação [ver g)]. Por outro lado, a falha em obter melhores resultados também se deveu a não termos conseguido ser suficientemente responsivas: adaptámo-nos às eleições antecipadas mas deixámos escapar várias outras oportunidades. Aprendemos que temos de ser mais ágeis e responsivas às mudanças no nosso contexto sem perder o foco [ver h)].

Mesmo nós, no Climáximo, em diversos momentos tivemos dificuldade em aceitar a realidade – que vivemos num estado de guerra –, sendo levadas pela normalização da violência da crise climática, pelo medo das consequências pessoais e coletivas ou pela intensidade emocional dos frequentes ciclos de ação. Com tempo, aumentámos o apoio coletivo e a nossa resiliência legal, financeira, e organizativa. Hoje enfrentamos grandes consequências pessoais e organizativas do salto que fizemos. Estamos assustadas, mas sabemos que as consequências para a vida de milhões de pessoas desta guerra são muito maiores, e que para a travar precisamos de correr novos riscos [ver b)].

A nível de movimentos em Portugal, no último ano o Climáximo introduziu um novo enquadramento e uma nova âncora para a forma como construímos os nossos movimentos. Por parte dos outros grupos e ativistas, isto causou diversas reações como simpatia, respeito, entusiasmo, confusão, frustração, curiosidade, às vezes tudo isto em simultâneo. Muito além dos aspetos narrativos e táticos, esta novidade tem implicações sobre estratégias e culturas organizativas. Apesar de algumas – poucas – tentativas, não conseguimos transmitir estes aspetos suficientemente. No final deste ano, nós próprias temos agora mais clareza sobre as dúvidas, receios e medos que surgiram nas outras organizadoras [ver i)].

Também não conseguimos construir o movimento internacional que deveríamos ter este verão. A nível internacional, o Climáximo contribuiu para a delegitimização de espaços onde estão a ser planeados crimes de guerra (nomeadamente a COP), mas não conseguimos que a proposta de boicote à COP fosse aceite na generalidade, nem fazer com que uma parte significativa do movimento aceitasse a necessidade de rutura com o sistema dentro dos prazos ditados pela ciência [ver c) e e)].

Arriscámos muito a nível pessoal e coletivo, mas para enfrentarmos a maior ameaça que a humanidade alguma vez enfrentou, arriscar tudo antes de perder tudo é a única opção.Com base no que sabemos ser necessário para conseguir pôr fim a esta guerra, nas aprendizagens do último ano e na realidade atual, nos próximos 12 meses o Climáximo vai 1) Continuar a arriscar tudo para que a crise climática seja percecionada como a guerra que é; 2) Experimentar novas formas de exponenciar a resistência para ripostar e parar esta guerra, a nível nacional e internacional; 3) Fortalecer a nossa resiliência interna, bem como criar uma maior agilidade e responsividade ao longo do ano.

Para tal continuaremos a fazer e desenvolver tudo aquilo que nos levou, ou cremos que ainda nos possa levar, mais próximo da crise climática ser vista como a guerra que é,mantendo-nos atentas aos resultados. Vamos:

  • a) Fazer ações que coloquem a crise climática no centro do debate todos os meses. Vamos continuar a fazer ações de disrupção pública, bem como de disrupção da destruição.
  • b) Tendo em conta o intensificar da repressão ao movimento por justiça climática por todo o mundo e em Portugal, vamos fortalecer a nossa resiliência coletiva a nível legal, financeiro e fomentando cuidado coletivo.
  • c) Estar atentas a novas propostas de coordenação do movimento internacional, que demonstrem iniciativa e ambição.

Vamos também experimentar coisas novas e tomar novos riscos. Vamos agora:

  • d) Mobilizar toda a sociedade em Portugal para participar em grandes ações públicas de resistência, no outono e na primavera.
  • f) Tentar potenciar uma ação descentralizada a nível europeu na Primavera contra as armas de destruição massiva apontadas à vida de milhões de pessoas.
  •  
  • g) Levar o plano de desarmamento e de paz a debate público.
  •  
  • h) Inovar a nossa comunicação com base em honestidade emocional, quebrar a ideia de “ativista”, explicitar os impactos da crise climática e relembrar que a história ainda não está escrita e cada pessoa tem um papel ativo nela.
  •  
  • i) Apostaremos numa abordagem responsiva e focada face às mudanças de contexto e oportunidades emergentes, adaptando e mudando os nossos planos iniciais quando necessário.
  •  
  • j) A nível dos movimentos em Portugal, vamos finalizar o processo iniciado no último ano e esclarecer qual é a nossa proposta/convite/desafio a outras organizações no movimento. Vamos fazê-lo via artigos, reuniões e oficinas colaborativas nos próximos meses.

Vamos continuar a arriscar tudo menos a hipótese de perder tudo sem termos tentado ganhar. Em 6 meses voltaremos a avaliar e colocar tudo em cima da mesa. Estamos assustadas com a possibilidade de ficarmos um ano mais longe de ganharmos a luta das nossas vidas. Encaramos de frente a nossa tarefa e agarramo-nos à coragem de fazer história.

2025 tem de ser o ponto de viragem na história que vai ser contada sobre como a sociedade conseguiu impedir o inferno climático para o qual os governos e as empresas nos empurravam.


Leituras adicionais:

Ao longo do último ano, enquanto experimentávamos coisas novas, tomávamos novos riscos e retirávamos novas aprendizagens, fomos escrevendo diferentes textos a clarificar a nossa estratégia, experiências e tentativas. Estes textos continuarão a guiar-nos ao longo do próximo ano:


Declarações passadas e pontos de situação

Ponto de viragem: Estado de Emergência Climática 2024

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