De 5 a 10 de Dezembro de 2023 realizou-se a Earth Social Conference (ESC), a primeira conferência internacional de boicote à COP, e o Climáximo não só esteve presente como foi um dos grupos principais a impulsionar e organizar esta conferência que boicotou a COP28.
Porquê
Decidimos organizar a ESC porque sabemos que depois de cada COP, independentemente das campanhas de pressão do movimento, as temperaturas, as emissões e os eventos climáticos extremos atingem níveis nunca antes visto. Sabemos que a COP não está a falhar. Está a conseguir manter a ilusão de que algo está a ser feito para resolver a maior crise que a humanidade alguma vez enfrentou, enquanto os governos e empresas que se reunem na COP todos os anos continuam a aumentar a capacidade de nos matar e a destruir tudo o que nos rodeia. Sabemos que quem criou esta crise não a vai resolver (basta olhar para os resultados inexistentes de mais de 30 anos de negociações climáticas). Acima de tudo sabemos que embora eles sejam culpados, somos nós, as pessoas, que temos a responsabilidade de travar esta crise, coordenando-nos internacionalmente e desenhando e implementando estratégias adequadas à tarefa que temos à nossa frente de mudar o sistema até 2030, através de uma rotura com este sistema.
Antes de decidirmos avançar com a organização desta conferência, enviámos uma carta a centenas de grupos sobre se se comprometiam a fazê-lo connosco. Face ao entusiasmo e interesse que recebemos, avançámos com este processo e, meses mais tarde juntámo-nos a centenas de organizações e militantes que apoiaram o apelo para boicotar a COP28 e construir a alternativa popular. Em Dezembro, após meses de preparação, participámos, com dezenas de organizações e militantes na primeira Conferência Social da Terra, na Colombia.
O que aconteceu?
A conferência que decorreu num dos sítios mais impactados pela extração de combustíveis fósseis na Colombia foi repleta de energia, flexibilidade e de pessoas e grupos de diversas partes do mundo e provenientes de diversos contextos, todas comprometidas com a luta por justiça climática.
Antes da conferência organizámos webinars e reuniões abertas sobre que tipo de coordenação internacional precisa o nosso movimento. Estes momentos contribuíram para o que viria a ser a conferência.
O programa estava dividido em duas partes. A primeira foram sessões públicas (online e offline), baseadas em quatro pilares: 1) Qual é o mundo pós-capitalista que queremos; 2) Qual é a teoria de mudança que nos vai levar lá; 3) Quais são as estratégias que precisamos de implementar para tal; e 4) Como é que precisamos de nos organizar para tal. O Climáximo esteve em diversos dos plenários e deu as sessões “Handbrake to Stop Climate Collapse” e “It’s time we try something new: Why are we boycotting COP?”.
A segunda parte foram reuniões internas, onde discutimos próximos passos e que tipo de coordenação internacional o nosso movimento precisa. Devido a um ambiente onde se conseguiu criar algum nível de confiança, concordar com bases inerentes ao propósito da conferência, e encorajar novas propostas e ideias, conseguiu-se chegar a próximos passos concretos para 2024.
Próximos passos decididos
Na conferência decidimos continuar a boicotar a COP e que a próxima conferência se realizaria no México em 2024, com o compromisso de grupos locais para a organizar. Também decidimos começar a preparar logo o boicote para a COP30 (em 2025) em Belém (Brasil).
Para além disto, alguns dos grupos juvenis presentes na conferência comprometeram-se a organizar várias ações para criar disrupção em instituições, exigindo o fim aos combustíveis fósseis até 2030, levando a um levantamento estudantil no ano 2024/2025.
Por fim, reiterámos o nosso compromisso em coordenarmo-nos e planear internacionalmente para conseguirmos, através de um caminho de rotura com este sistema, a mudança sistémica por justiça climática até 2030.
Estando atentas e disponíveis para ajudar com os diferentes seguimentos da conferência, o Climáximo decidiu investir mais na construção de uma coordenação de rotura internacional.
Ponto de situação para o Climáximo em Maio de 2024
Por diversos motivos, a próxima Earth Social Conference – a conferência internacional de boicote à COP que organizámos pela primeira vez em Dezembro, na Colombia – já não irá realizar-se no México nas datas previstas. No México irá ocorrer a conferência anti-cop “encuentro global por el clima y la vida”, de 4 a 9 de Novembro em Oaxaca. Embora será uma conferência anti-cop e bastante interessante, não irá realizar-se nas mesmas datas que a COP, boicotando-la, pelo que estamos a compreender como poderemos dar continuidade à necessidade do movimento internacional confrontar as instituições que nos declararam guerra e os espaços onde esta é planeada.
Passados 5 meses da ESC, continuamos a trabalhar para o fortalecimento de um espaço de coordenação que aceite a tarefa de mudar o sistema nos prazos necessários.
Olhámos para esta primeira conferência social da terra como o início de um processo, e não apenas uma conferência. Para que seja possível no futuro próximo termos reunidos milhares de militantes comprometidos com mudar o sistema nos prazos ditados pela ciência, sabemos que temos muito a melhorar e aprender e que o nosso movimento precisa de aceitar a sua responsabilidade na mudança sistémica e tomar riscos que possam levar a um momento de viragem na história. O Climáximo vai continuar a fazer tudo ao seu alcance para que tal seja uma realidade. Continuamos a pensar em novas propostas ambiciosas para fazer ao movimento, sabendo que precisamos de tomar riscos para poder ganhar.