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O Climáximo foi ao Geef Tenengas, em Roterdão

De 28 de Agosto a 1 de setembro estivemos no acampamento de ação de massas em Roterdão contra o gás fóssil, Geef Tenengas. É nesta cidade que se encontra o maior porto de gás natural liquefeito (GNL) da Europa, onde o Gate Terminal, em operação desde 2011, está a ser expandido para aumentar a capacidade e receber ainda mais importações de gás, além de estar planeada a construção de um novo terminal em Vlissingen, ampliando a dependência do país em gás fóssil por décadas.

Geef Tenengas é um novo movimento nos Países Baixos e foi iniciado pela Fossil Free NL (Fossielvrij Nederland), uma ONG focada no gás fóssil, que procurava um grupo de base para trabalhar na luta contra o gás, tendo em conta que neste país a Extinction Rebellion tem dominado o movimento climático desde 2019. O objetivo do Geef Tenengas é parar a indústria fóssil, construir movimento para uma transição justa e garantir a reparação pelos danos causado pelo sistema capitalista e racismo climático.

O acampamento aconteceu em Pernisserpark, em Pernis, área submunicipal de Roterdão subjugada pela indústria petroquímica, onde a Shell mantém a maior refinaria da Europa e uma das maiores do mundo. Cerca de 350 pessoas passaram pelo acampamento, que contou com vários workshops e sessões ao longo dos dias, e cerca de 250 pela ação que bloqueou o porto, no sábado, a 31 de agosto.

Numa sessão organizada por We Smell Gas intitulada “Poder corporativo, militarização & contrainsurreição”, discutiu-se imperialismo energético e percebemos como na última década Israel se tornou num dos mais importantes produtores e exportadores de gás fóssil, abastecendo Egipto, Jordânia e União Europeia com gás extraído de territórios marítimos palestinianos.
Estas receitas de exportação, junto com a manutenção da sua posição geopolítica, são canalizadas para o seu orçamento militar, além da infraestrutura de gás fóssil existente – operada pela Chevron – estar diretamente implicada na violência da ocupação colonial dos colonos. Com patrulhas ilegais do mar nas plataformas (Tamar, Leviathan e Karish) e do gasoduto (Arish-Ashkelon), Israel estende a sua área. É, porém, no Egipto que estão os terminais de gás israelita para exportação: Idku e SEGAS (em Damietta). De acordo com Disrupt Power, coletivo palestiniano que investiga e interrompe o fornecimento global de energia que alimenta Israel e membro da coligação “The Global Energy Embargo for Palestine”, os combustíveis fósseis são a resposta para pôr fim ao genocídio e desmantelar a ocupação colonial da Palestina pelos colonos.

Noutra sessão, “Gás Liquefeito 101 & Construir pontes transatlânticas de solidariedade e sucesso”, ouvimos histórias sobre a resistência local contra o gás proveniente de fracking que envolve luta por direitos humanos e racismo ambiental no Texas. Em “Liquified gas financing & how to stop it” falou-se nos bancos que financiam os projetos de GNL que abastecem a Europa, particularmente na área costeira do golfe do México.

No sábado estivemos no bloqueio da Ponte Botlek, o mais importante ponto de entrada para o trânsito de camiões no porto de Roterdão, que impossibilitou o transporte de gás por via rodoviária e também a chegada de navios (que não podiam cruzar a ponte). O porto esteve fechado durante um total de 11 horas. Centenas de pessoas juntas atingiram o capital fóssil onde mais lhe custa.

Um dos objetivos do bloqueio do maior local de importação de gás fóssil da Europa é acabar com a cumplicidade holandesa no genocídio palestiniano. Os Países Baixos importam gás de zonas controladas por Israel, financiando e apoiando o genocídio na Palestina, além de continuarem a exportar armas para Israel. Um outro propósito é mostrar solidariedade para com a resistência de grupos indígenas, o povo palestiniano e todas as comunidades da linha da frente cujo sofrimento é causado e exacerbado pela indústria fóssil e pela queima de combustíveis fósseis.

No último dia, 1 de setembro, estivemos numa sessão sobre ativismo regenerativo, onde se discutiu o burnout e as causas e condições que contribuem para a falta de sustentabilidade em contexto ativista, e noutra sobre os próximos passos de Geef Tenengas e como nos podemos coordenar internacionalmente na luta contra uma das armas mais mortíferas que governos e empresas usam contra a sociedade e o planeta, o gás fóssil.

Apenas um dia depois do acampamento ter acabado, um corte de energia atingiu o porto (alguém andou ocupado durante a noite?) e empresas como Exxon e BP tiveram de queimar todo o gás em excesso, enquanto tiveram de parar todas as suas atividades. Este incidente mostra quão vulnerável e pérfida a indústria do gás natural liquefeito é – não pode parar de ser queimado, emitindo quantidades enormes de metano, gás com um poder de aquecimento da atmosfera 86 vezes superior ao dióxido de carbono.

Para Geef Tenengas, este bloqueio foi apenas o início. Em Portugal, continuaremos a disromper a destruição feita por aqueles que nos declararam guerra e ao planeta.

E tu, sabendo o que sabes, o que vais fazer?

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