No dia 1 de Junho de 2025, dezenas de pessoas demonstraram a sua força e coragem numa marcha e assentada popular que interrompeu os acessos à infraestrutura mais poluente do país, o aeroporto Humberto Delegado. Fomos meia centena de pessoas, de diversas idades, profissões, e origens sociais e políticas. Todas nós nos juntamos nesta assentada no aeroporto porque porque sabemos que é preciso travar a crise climática, cortar emissões, diminuir drasticamente o setor da aviação e investir massivamente num sistema de transportes públicos gratuitos e eletrificados para todas as pessoas.

A concentração começou pelas 15h na Rotunda do Relógio. Treinámos os cânticos (“A indústria da aviação tem sangue na mão!” ou “Nem aqui nem Alcochete, aeroporto p’ró cacete”), vestimos t-shirts semelhantes conseguirmos transmitir uma imagem unitária porém colorida da ação, e fizemos o primeiro plenário de delegados do dia.


Pelas 16h, saímos em marcha da Rotunda do Relógio em direção ao Aeroporto de Lisboa. Éramos meia centena de pessoas e segurávamos faixas como “Parar Aviões e Cortar Emissões”, “Desarmar a Indústria Fóssil” ou “Nem Aqui nem Alcochete / Aeroporto pró cacete”, numa marcha energética e visualmente unida com tambores a acompanhar os cânticos.



Após recebermos informação de que não seria possível entrarmos no átrio do aeroporto, decidimos sentarmo-nos numa das vias de acesso rodoviária ao aeroporto de forma a conseguirmos na mesma causar disrupção durante a hora de pico dos voos . Pouco tempo depois, um outro grupo de 8 pessoas conseguiu bloquear com os seus próprios corpos uma outra entrada rodoviária ao aeroporto. Desta forma, durante algum tempo conseguimos criar disrupção com os nossos próprios corpos nos principais acessos à infraestrutura mais emissora e poluente do país.




Em plenário após aviso de repressão por parte da polícia, a meia centena de pessoas que ocupava a estrada de acesso ao aeroporto decidiu sair pois seria necessário que mais pessoas estivessem dispostas a resistir até ao fim. Ao mesmo tempo e do outro lado, o outro grupo de afinidade continuava a bloquear um dos acessos rodoviários ao aeroporto e demonstrando só a ação direta e a democracia popular podem travar o rumo para o abismo climático para o qual nos dirigem empresas, governos e instituições deste sistema mortífero.

Após a detenção de 6 pessoas, a assentada prosseguiu em marcha até à esquadra dos Olivais para esperar a libertação de todas as pessoas. Sabemos que a ação só acaba quando todas estiverem livres, e meia centena de pessoas marchou até à esquadra em solidariedade. A repressão são atos de tentativa de desmobilizar e castigar aqueles que sabem que este sistema económico nos está a matar. Mas a verdadeira consequência é a de não agirmos já. Nós estamos a agir com as nossas próprias mãos e corpos porque sabemos que as instituições, os governos, e as empresas são culpadas desta crise climática e não hesitarão em destruir tudo em nome do lucro.
Durante a vigília fizemos cânticos para animar a libertação das pessoas lá dentro, e fizemos também um plenário onde em pequenos grupos discutimos e imaginámos a possibilidade de um mundo e uma cidade melhor onde a vida está acima do lucro. Em pequenos grupos, refletimos e discutimos sobre a pergunta:”quando encerrar em 2030, o que poderá ser o Aeroporto da Portela?”. A atual área do aeroporto representa quase 5% de Lisboa e tem mais de 400 hectares. Muitos contemplam a possibilidade de não só construir um novo aeroporto em Alcochete – que seria equivalente a construir uma nova fábrica de armas em plena crise climática – mas também de vender o terreno do atual aeroporto a privados. As emissões da aviação têm de decrescer até quase 0 em 2030 e o aeroporto da Portela tem de ser encerrado com garantia de transição justa para os trabalhadores, transformando o terreno em algo útil para as pessoas e não para o lucro – habitação pública, agrofloresta, parques, serviços comunitários, etc.
A vigília durou até às 23h30, hora em que todas as pessoas foram libertadas.



Fomos meia centena de pessoas, de diversas idades, profissões, e origens sociais e políticas. E, independentemente das nossas origens, idades, e profissões, todas nós nos juntamos nesta assentada no aeroporto porque sabemos que a crise climática é a maior crise que a Humanidade alguma vez enfrentou, e estamos assustadas.
Estamos assustadas porque, face à possibilidade do colapso climático e social, os governos e as empresas – os culpados que nos levaram até aqui – continuam a pôr o pé no acelerador ao fazerem planos para novos projetos emissores, como é o caso do projeto de expansão do aeroporto da Portela e a construção de um novo aeroporto em Alcochete. Estamos assustadas, porque durante a campanha para as eleições legislativas antecipadas em Maio a crise climática não esteve no centro do debate. Estamos assustadas porque apesar de ser necessária uma redução drástica até quase 0 até 2030, a indústria da aviação continua a crescer exponencialmente e a queimar o planeta à custa do luxo de apenas 10% da população mundial.
Hoje, estivemos juntas em força, coragem e solidariedade no aeroporto de Lisboa na assentada “Parar os Aviões” porque sabemos que é preciso travar a crise climática, cortar emissões e investir massivamente num sistema de transportes públicos gratuitos e eletrificados para todas as pessoas. Criámos perturbação com os nossos próprios corpos à hora de pico dos voos naquela que é a infraestrutura mais emissora em Portugal. Mas sabemos que ainda não é suficiente, e que precisamos de centenas de milhares de pessoas que parem de consentir com este sistema que nos leva ao abismo climático e investe na guerra, nas fronteiras, nas armas e na miséria em prol do lucro de poucos.
Se isto foi o que conseguimos alcançar com a coragem e determinação de 50 pessoas, imagina o que conseguiríamos alcançar com 10 mil pessoas nas ruas! A crise climática é uma guerra contra as pessoas e o planeta cujas manifestações nas nossas vidas estão cada vez mais presentes e de formas cada vez mais agressivas. Ao mesmo tempo, ascende o fascismo e a extrema-direita ao poder, que só querem erguer mais muros, mais fronteiras, agravar o capitalismo fóssil, lucrar mais, privatizar mais.
Nós sabemos que o sistema está a colapsar e as instituições não nos vão salvar. Apenas a democracia popular e o poder do povo podem acionar o travão de emergência para a crise climática. Dezenas de pessoas comuns, como tu, demonstraram a sua coragem e vieram para as ruas gritar. E tu, quando vais entrar em resistência climática?
Próximos passos
A assentada foi apenas mais um passo na construção do poder popular para travar a crise climática. O próximo passo é continuar, sendo mais e mais fortes. Só juntas, contigo, podemos lutar por uma vida digna e justiça social num planeta habitável.
Reunião introdutória ao Climáximo: 10 de Junho às 18h no Coreto da Praça José Fontana!

